Certa ocasião, em decorrência do estado de saúde, Chico não podia deslocar-se até o Centro. A multidão se comprimia na rua em frente a sua residência. Quando o portão se abriu, a fila de pessoas tinha alguns quarteirões. Foram passando uma a uma em frente ao Chico. Pessoas de todas as idades, de todas as condições sociais e dos mais distantes lugares do País. Algumas diziam: - Eu só queria tocá-lo... - Meu maior sonho era conhecê-lo... - Só queria ouvir sua voz e apertar sua mão... Uns queriam notícias de familiares desencarnados, espantar uma idéia de suicídio. Outros nada diziam, nada pediam, só conseguiam chorar. Com uma simples palavra do Chico, seus semblantes se transfiguravam, saíam sorridentes. De repente, ele se volta para mim e diz: - Comove-me a bondade de nossa gente em vir visitar-me. Não tenho mais nada para dar. Estou quase morto. Por que você acha que eles vêm? Perguntou-me e ficou esperando a resposta. Comecei então a pensar que quando Jesus esteve conosco, onde quer que aparecesse, a multidão o cercava. Eram pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais e dos mais distantes lugares. Muitos iam esperá-lo nas estradas, nas aldeias ou nas casas onde Ele se hospedava. Onde quer que aparecesse, uma multidão o cercava. Zaqueu chegou a subir numa árvore somente para vê-lo. Ver, tocar, ouvir eram só o que queriam as pessoas. Tudo isso passou pela minha cabeça com a rapidez de um relâmpago. E como ele continuava olhando para mim esperando a resposta, animei-me a dizer: - Chico, acho que eles estão com saudades de Jesus. A multidão continuou desfilando. Todos lhe beijavam a mão e ele beijava a mão de todos. Lá pelas tantas da noite, quando a fila havia diminuído sensivelmente, percebi que seus lábios estavam sangrando. Ele havia beijado a mão de centenas de pessoas. Fiquei com tanta pena daquele homem, nos seus oitenta e oito anos, mais de setenta dedicados ao atendimento de pessoas, que me atrevi a lhe perguntar: - Por que você beija a mão deles? A humildade de sua resposta continuará emocionando-me sempre: - Porque não posso me curvar para beijar-lhes os pés.
Texto de Adelino da Silveira extraído do livro "Momentos com Chico Xavier"
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