Ambição não é ganância

A  ideia  de cidadania  é para todas as  pessoas. Se não for assim, não é cidadania, é privilégio.

É por isso que Paulo Freire dizia que a única briga que vale a pena é da dignidade coletiva, da cidadania plena, e da extinção do privilégio. Ele dizia: “Cada um de nós briga numa esquina”. Lembra daquela história da briga da esquina? “Te pego lá na esquina, te espero na esquina”. Paulo Freire dizia que cada um de nós briga em uma esquina. São várias as esquinas. Por exemplo, nós brigamos na esquina da universidade, do Cursinho da Poli, do movimento popular, do hospital, da padaria e da mãe de família. Não importa a nossa esquina. Ele também dizia: “Na vida, você pode até mudar de esquina, o que você não pode mudar é de briga”.

Cada um está se preparando para ocupar uma esquina, em sua vida, como um curso superior. Essa será a sua esquina na briga de sua conquista profissional: engenharia, administração, chef de cozinha, design. Tanto faz. Independente de sua escolha vocacional. Aquela vai ser a sua briga pela sua vida e pela vida do outro.

Na vida, o mais importante é termos ambição em nossas brigas. Mas não confunda ambição com ganância. A ambição é uma virtude na história humana. Ambiciosa é a pessoa que aspira desejos no bom sentido e a gananciosa é aquela que quer só para si, ou seja, uma ganância desmedida, a qualquer custo. Inclusive, os chineses têm um ditado muito verdadeiro: “Quando a partida de xadrez acaba, independentemente do resultado, o peão e o rei vão para a mesma caixinha”.

Eu sou ambicioso, quero mais conhecimento, mais capacidade de vida. Mas não sou ganancioso. Não quero isso apenas para mim, a qualquer custo. Há um preço que eu não pago: degradar a minha ética, estilhaçar o meu sonho, tudo que for inútil e que apequene a minha vida. Mario Sergio Cortella