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Foto do escritorJulio Cesar França Franco

Amizade e o seu valor ímpar



Um dia, durante uma conversa entre advogados, me fizeram uma pergunta: – O que de mais importante você já fez na sua vida? A resposta me veio à mente na hora, mas não foi a que respondi pois as circunstâncias não eram apropriadas. No papel de advogado da indústria do espetáculo, sabia que os assistentes queriam escutar anedotas sobre meu trabalho com as celebridades. Mas aqui vai a verdadeira, que surgiu das profundezas das minhas recordações. O mais importante que já fiz na minha vida, ocorreu em 8 de outubro de 1990. Comecei o dia jogando golfe com um ex-colega e amigo meu que há muito não encontrava. Entre uma jogada e outra, conversávamos a respeito do que acontecia na vida de cada um. Ele me contava que sua esposa e ele acabavam de ter um bebê. Enquanto jogávamos chegou o pai do meu amigo que, consternado, disse-lhe que seu bebê parara de respirar e que fora levado para o hospital com urgência. No mesmo instante, meu amigo subiu no carro de seu pai e se foi. Por um momento fiquei onde estava, sem pensar em mover-me, mas logo tratei de pensar no que deveria fazer: Seguir meu amigo ao hospital? Minha presença, disse a mim mesmo, não serviria de nada, pois a criança certamente estaria sob cuidados de médicos, enfermeiras e nada havia que eu pudesse fazer para mudar a situação. Oferecer-lhe meu apoio moral? Talvez, mas tanto ele quanto sua esposa vinham de famílias numerosas e sem dúvida estariam rodeados de amigos e familiares que lhes ofereceriam apoio e conforto necessário o que quer que acontecesse. A única coisa que eu faria indo até lá, era atrapalhar. Decidi que mais tarde iria ver o meu amigo. Quando dei a partida no meu carro, percebi que o meu amigo havia deixado o seu carro aberto com as chaves na ignição, estacionado junto às quadras de tênis. Decidi, então, fechar o carro e ir até o hospital entregar-lhe as chaves. Como imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares que os consolavam. Entrei sem fazer ruído e fiquei junto à porta pensando o que deveria fazer. Não demorou muito e surgiu um médico que se aproximou do casal e em voz baixa, comunicou o falecimento do bebê. Durante os instantes que ficaram abraçados - a mim pareceu uma eternidade - choravam enquanto todos os demais ficaram ao redor naquele silêncio de dor. O médico lhes perguntou se desejariam ficar alguns instantes com a criança. Meus amigos ficaram em pé e caminharam resignadamente até a porta. Ao ver-me ali, aquela mãe me abraçou e começou a chorar. Também meu amigo se refugiou em meus braços e me disse:

– Muito obrigado por estar aqui! Durante o resto da manhã fiquei sentado na sala de emergências do hospital, vendo meu amigo e sua esposa segurar nos braços seu bebê, despedindo-se dele. Isso foi o mais importante que já fiz na minha vida. Aquela experiência me deixou três lições: Primeira: o mais importante que fiz na vida, ocorreu quando não havia absolutamente nada, nada que eu pudesse fazer. Nada daquilo que aprendi na universidade, nem nos anos em que exerci minha profissão, nem todo o racional que utilizei para analisar a situação e decidir o que eu deveria fazer, me serviu para aquela circunstância: duas pessoas receberam uma desgraça e nada eu poderia fazer para remediar. A única coisa que poderia fazer era esperar e acompanhá-los. Isto era o principal. Segunda: estou convencido de que o mais importante que já fiz na minha vida esteve a ponto de não ocorrer, devido às coisas que aprendi na universidade, aos conceitos do racional que aplicava na minha vida pessoal, assim como na profissional. Ao aprender a pensar, quase me esqueci de sentir. Hoje, não tenho dúvida alguma de que deveria ter subido naquele carro sem vacilar e acompanhado meu amigo ao hospital. Terceira: aprendi que a vida poder mudar em um instante. Intelectualmente todos nós sabemos disso, mas acreditamos que os infortúnios acontecem com os outros. Assim, fazemos nossos planos e imaginamos nosso futuro como algo tão real como se não houvesse espaços para outras ocorrências. Mas ao acordarmos de manhã, esquecemos que perder o emprego, sofrer uma doença, ou cruzar com um motorista embriagado e outras mil coisas, podem alterar este futuro em um piscar de olhos. Para alguns é necessário viver uma tragédia para recolocar as coisas em perspectiva. Desde aquele dia busquei um equilíbrio entre o trabalho e a minha vida. Aprendi que nenhum emprego, por mais gratificante que seja, compensa perder umas férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família. E aprendi que o mais importante da vida não é ganhar dinheiro, ascender socialmente ou receber honrarias. O mais importante da vida é ter tempo para cultivar as amizades. Autor: Desconhecido

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