"Num reino esquecido pelo tempo, os mais simples quase sempre sofrem com a maldade dos poderosos.
Assim, um camponês foi injustamente levado à presença de um juiz por ter levantado a voz contra um próspero comerciante que não queria pagar o preço justo por uma colheita de maçãs.
No caminho, o camponês imaginou o que diria ao juiz... Pensou, pensou e sorrateiramente abaixou-se e apanhou duas pedras. Escondeu-as dentro do casaco, deixando-o saliente.
O juiz após ouvir atentamente a queixa do comerciante, folheou aleatoriamente o Livro das Leis... Só então reparou nas elevações no
casaco do camponês.
E foi aí que pensou: “Este homem deve ter trazido todas as suas economias para não perder sua liberdade. Deve estar disposto a dar tudo. Vou surpreendê-lo, assim ele me será grato e me entregará de coração, sua pequena fortuna e não poderá dizer que me subornou.”
Assim pensando, assim fez.
- Senhor comerciante... Releve o que esse homem do campo lhe disse ou fez. Seja superior! Ele já tem uma vida tão desgraçada e difícil. Pagará naturalmente com seu dia-a-dia.
O comerciante se sentiu importante com aquelas palavras e saiu em paz.
O juiz então, ficando sozinho com o camponês, perguntou-lhe:
- Gostou da sua sentença, pobre homem? O que tem a me dizer?
- Que apesar de não concordar com o senhor ao dizer que minha vida é desgraçada, pois a amo muito, estou contente com a sentença porque prezo e preciso da minha liberdade. Posso ir?
O juiz estava muito surpreso, mas nada podia fazer por já ter proclamado a sentença. Então, resolveu apelar:
- Pode ir, claro, mas antes me diga, o que você tem aí embaixo do casaco?
- Ah, são duas pedras que encontrei pelo caminho e quis guardar para mostrar aos meus filhos quando retornasse do tribunal.
- E que pedras são essas, homem – indagou boquiaberto o juiz.
- Representam o alicerce da vida de qualquer homem de bem: a Verdade e a Justiça. Como eu sabia que não tinha faltado com a verdade com aquele comerciante a Justiça também não me faltaria."
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