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Foto do escritorJulio Cesar França Franco

História da Música Serra da Boa Esperança

Conforme informa Áurea Netto Pinto,[1] no princípio da década de 1930, seu irmão, o dentista Carlos Alves Netto (chamado “Caro”, pelos amigos) colecionava fotos de celebridades do rádio. Ele mesmo era um artista, compunha e cantava suas próprias composições, tocava vários instrumentos, escrevia peças teatrais, pintava cenários e interpretava.

Para obter as fotos dos artistas, lançava mão de todos os recursos. Inicialmente, escrevia a eles e, por vezes, para maior êxito, adotava um pseudônimo feminino. Lamartine Babo, que estava no auge do prestígio, era o artista do momento e acabara de compor a música “O teu cabelo não nega, mulata”, que lhe gerou problemas autorais.

Assim, Carlos Netto escreveu a Lamartine Babo, fazendo se passar por uma certa “Nair Oliveira Pimenta”, mineira de Dores da Boa Esperança.

Com o tempo, Lalá (apelido de Lamartine) e Nair passaram a se corresponder com frequência. Se Lamartine escrevia em prosa, Nair respondia em prosa, sem ele escrevia em versos, “ela” respondia em versos. Lamartine se admirou com a inteligência da sua correspondente, enviou as fotos e, por um ano, manteve esta correspondência; até que Nair interrompeu as cartas, alegando que iria se casar com um primo e que “tudo não se passava de um sonho impossível”.

Lalá, ansioso e preocupado, no ano de 1937, resolve ir a Boa Esperança para conhecer Nair.

As crônicas do lugar descrevem Lamartine, ao chegar na cidade, como “magro, feio e desdentado; porém, um sultão orgulhoso de seu harém”.

Apresentaram-lhe a única Nair do lugar, que era uma menina de 6 anos de idade. Decepcionado, não desistiu e continuou sua busca pela cidade, até que alguém lhe revelou: “Nair era um ‘marmanjo’ que o ludibriara para conseguir sua foto”! Apesar do receio da verdade, o dentista Carlos Alves Netto, irmão de Nair, assumiu: era ele quem mandava as cartas.

Ao saber de tudo, Lalá capitulou, silenciosamente, sem comentários. Ficou na cidade e conheceu melhor Carlos Netto, de quem se tornou grande amigo.

A juventude e os músicos do lugar passaram a se reunir, diariamente, com Lamartine, que à luz de lampião, em volta da mesa, a todos encantava com sua inteligência privilegiada.

Assim, marcado um piquenique para a despedida de Lamartine, este, olhando a Serra da Boa Esperança que emoldurava a paisagem, começou a solfejar as notas, que Carlos Netto ia escrevendo na pauta improvisada num pedaço de jornal. E com as notas, foi saindo a letra.

Quando da reinauguração do Clube Dorense, foi prevista uma homenagem a Lamartine Babo, porém ele faleceu antes. Assim, em sua homenagem, a municipalidade ergueu um monumento, numa das principais vias públicas da cidade, a Avenida Marechal Floriano Peixoto.

Esta música fez muito sucesso, sendo interpretada por vários artistas.

Segue a letra:

Serra da Boa Esperança, esperança que encerra No coração do Brasil um punhado de terra No coração de quem vai, no coração de quem vem Serra da Boa Esperança meu último bem Parto levando saudades, saudades deixando Murchas caídas na serra lá perto de Deus Oh, minha serra, eis a hora do adeus vou me embora Deixo a luz do olhar no teu luar Adeus

Levo na minha cantiga a imagem da serra Sei que Jesus não castiga um poeta que erra Nós, os poetas, erramos, porque rimamos também Os nossos olhos nos olhos de alguém que não vem Serra da Boa Esperança, não tenhas receio Hei de guardar tua imagem com a graça de Deus Oh, minha serra, eis a hora do adeus, vou-me embora Deixo a luz do olhar no teu luar Adeus


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