"Nos caminhos por onde andamos e onde nos fixamos encontramos pessoas feridas, derrotadas, pessoas dominadas pelas drogas, jogadas no abandono, na miséria, esquecidas pelos familiares, e sentimos compaixão. Vem-nos logo o desejo de ajudá-las e nos perguntamos: que palavra proferir, que gesto fazer para manifestar solidariedade? Como demonstrar nosso afeto?
Como cristãos, o caminho é contemplarmos a vida de Jesus, e recordamos que ele sempre encontrava a palavra, o gesto, o sinal para libertar a pessoa e fazer a vida brotar.
E, ao lembrar Maria nas Bodas de Caná, escutamos: “façam tudo o que ele disser”.
É o nosso caminho.
Há uma palavra que Jesus usou diversas vezes e, mais tarde, também os apóstolos em sua missão: “levantar-se”. Posso dizer ao ferido meu desejo de ajudá-lo e até oferecer-lhe a mão, mas, ele é que deve se levantar.
A ordem “levanta-te” foi dirigida ao homem de mão seca (Lc 6,6-11), ao filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), ao leproso que retornou (Lc 17, 11-19), ao cego Bartimeu (Mc 10,46-52) e em outras ocasiões. O fruto era seguro: quando a pessoa se levanta, recebe o dom da cura.
Jesus não age sozinho: desperta a pessoa a assumir sua vida, andar com as próprias pernas. Jesus não carrega ninguém, pois o andar pertence à pessoa. Podemos ser um cajado, isso sim, para o outro andar, mas não substituir-lhe as pernas.
É difícil levantar-se quando as derrotas se acumularam em nossa história pessoal e quase não temos forças para um gesto assim.
E, ainda, não basta levantar-se: é necessário também andar. O homem ferido pode até achar que não o amamos, que somos duros nos sentimentos, não entendemos sua dor, mas, esse é o caminho ensinado por Jesus – levantar-se e andar, e nós queremos amar a pessoa derrotada, não ser amados por ela."
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