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Foto do escritorJulio Cesar França Franco

O Cesto e a Água




"Deveríamos nos inquietar por não conseguirmos memorizar todos os bons ensinamentos? Este conto nos mostra, com maestria, que não. Sentir é mais importante do que memorizar.   Num velho mosteiro chinês, o discípulo acerca-se do mestre e pergunta: – Por que devemos ler, estudar, considerar e refletir sobre a sabedoria se nós não conseguimos memorizar tudo e, com o tempo, acabamos esquecendo? Somos obrigados, constantemente, a retomar o que já não está mais em nossas memórias. O mestre ficou uns instantes em silêncio, fitando o horizonte e depois ordenou ao discípulo: – Pegue aquele cesto de junco, desça até o riacho, encha o cesto de água e o traga até aqui. O discípulo olhou para o cesto sujo e achou muito estranha a ordem do mestre, mas mesmo assim obedeceu. Pegou o cesto, desceu os cem degraus da escadaria do mosteiro até o riacho, encheu o cesto de água e começou a subir de volta. Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava mais nada. O mestre perguntou-lhe: – Então, meu filho, o que você aprendeu? O discípulo olhou para o cesto vazio e disse jocosamente: – Aprendi que cesto de junco não segura água. O mestre ordenou-lhe que repetisse o mesmo processo. Quando o discípulo retornou com o cesto vazio outra vez, o mestre fez a mesma pergunta: – Então, meu filho, o que você aprendeu? O discípulo respondeu com um certo sarcasmo: – Que cesto furado não segura água! O mestre, então, continuou ordenando que o discípulo repetisse a tarefa. Depois da décima vez, o discípulo estava desesperadamente exausto de tanto descer e subir as escadarias. Porém, quando o mestre lhe perguntou de novo: – Então, meu filho, e agora, o que você aprendeu? O discípulo, olhando para dentro do cesto, percebeu admirado: – O cesto está limpo! Apesar de não segurar a água, a repetição constante de encher o cesto acabou por lavá-lo e deixá-lo limpo. O mestre, por fim, concluiu: – Não importa que você não consiga memorizar todos os ensinamentos adquiridos ao longo de sua vida. No processo de se conectar diversas vezes à sabedoria a sua mente e o seu coração vão se depurando. Inúmeros preconceitos se abrandam; a intolerância cede lugar à lucidez; a destrutividade, à criatividade; a oposição e competição gratuitas e infundadas, à cooperação ... Nesse processo, o homem, trabalhando no tempo e sendo continuadamente tocado pela sabedoria, vai “limpando-se” de seus aspectos grotescos e sombrios e torna-se verdadeiramente humano!"

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