Cheirando a canha e fumaça A cruza de dois sem raça Nasceste no olho da rua Perambulaste em sarjetas Sem nunca mamar nas tetas Da mãe que um dia foi tua.
Sofreste o frio e o abandono Daqueles que não tem dono E que jamais tiveram teto, mas por trás deste focinho No olhar imploras baixinho Que aceitemos o teu afeto.
Pelo ralo, pulgas, sarna... Por pouco não desencarnas, Doente e louca de fome, foste achada cachorrinha Assustada, tão sozinha, sem sequer possuir um nome!
Pedigree, doutor, vacina, No amargor de tua sina, levaste vida de bicho! Quase sempre escorraçada, só tinhas a madrugada, Pra
comer restos de lixo.
Dividiste espaço e pratos, Com outros cães, talvez gatos, Brigando por um cantinho Um lugar que te abrigasse, Onde a chuva não molhasse, Que fosse seco e quentinho.
Quis o destino no entanto, talvez pro teu próprio espanto Que outro dia alguém te achasse E ao te ver machucadinha, te arranjasse uma caixinha e com carinho, te adotasse.
Que inveja tem outros cães, mesmo aqueles que têm mães Ao te verem bela e faceira Senhora do pátio, jardim, de um corredor sem fim, ao sol, Dormindo na esteira...
Yorumlar